Desigualdade de Gênero Como Manifestação da Ignorância

Desigualdade de Gênero Como Manifestação da Ignorância

Convivo há duas décadas com quatro mulheres em casa: três humanas e uma canina, que de certo modo formam uma aliança poderosa na minha vida que me mantém atento às necessidades, conflitos e desafios sociais que elas enfrentam.  Tenho que confessar que há muitos anos eu era um ser machista, pois ainda me faltavam anos de vivencia neste mundo e nessa sociedade para compreender o que uma mulher passa no seu dia-a-dia.  Me faltava sabedoria e também compaixão de certa forma.

Foi quando comecei a estudar o budismo que as coisas começaram a mudar, juntamente com a época do meu casamento e o nascimento da minha primeira filha.  De repente, por necessidade de compreender esse universo, comecei a prestar atenção na sociedade na tentativa de visualizar o que ela reservava tanto para minha jovem esposa como para minha recém-nascida. Confesso que não gostei do que vi e minha percepção de mundo mudou.  Ainda munido de um machismo italiano com vinte e poucos anos, dizia que queria ter dois filhos, a primeira menina e o segundo um menino, já dando nomes aos dois.  Mas no dia que a Giulia veio ao mundo e olhei para ela pela primeira vez, tive a certeza absoluta que eu jamais seria pai de um menino, o que se comprovou quatro anos depois com a chegada da Vittoria.  Assim, mudei, mudei minha atitude e meus pensamentos, passando a olhar o mundo com um olhar defensor da igualdade de gênero. Aliás, essa convivência com minha querida esposa e minhas filhas só reforçaram minha visão budista do mundo, que se baseia numa ilusão egóica de distinção de gênero que só consegue se defendida à luz de um ignorância secular sem igual ou precedentes.

De qualquer maneira eu vibro com as conquistas delas, como vibro com as recentes conquistas de muitas mulheres guerreiras nesse mundo. O que mais me fascina é que estamos cada vez mais descobrindo heroínas da história que dantes não fazíamos ideia que existiam, mas que agora os mais machistas tem que abaixar a cabeça e agradecer.  E foi justamente através das mulheres da minha vida que pude conhecer a história dessas grandes personagens. Fui apresentado pelas minhas filhas à Millicent Fawcett, líder sufragista inglesa que defendeu os direitos das mulheres no século 19 de maneira pacífica, mas contundente. Ou a própria Rainha Vitória do Reino Unido que comandou um império numa tenra idade. A grande escritora Jane Austen que no século 18 desafiou a sociedade escrevendo romances espetaculares, em uma época que a inteligência feminina era tida como inferior (infelizmente ainda é hoje!).  E não menos Malala Yousafzai, que após quase morrer nas mãos do Talibã, defende a causa da educação para as mulheres em todo o mundo.  Dentre tantas outras, eu só tenho a agradecer por tê-las conhecido e hoje respeita-las por tudo que fizeram.

Mas o que podemos fazer para que não tenhamos mais que falar sobre isso como uma conquista? O que podemos fazer para que hashtags #metoo não tenha mais que ser estampadas para que tenhamos uma igualdade definitiva no mundo?

Eu tenho uma sugestão: use sua vontade de aprender mindfulness para começar a reconhecer o poder feminino e a igualdade merecida das mulheres.  Sendo mindfulness uma técnica para se ter atenção plena, eu convido você a começar a pratica-la bem perto de seus afazeres.

Você para exercitar o mindfulness não precisa comprar cursos ou sentar em posição de lótus por horas a fio para buscar algo que nem você sabe o que é.  Ter uma atitude mindfulness é desenvolver a compaixão e a sabedoria com um objetivo único de cessar o sofrimento alheio e acolher as necessidades do outro como sendo a sua.  Esse sentimento é dirigido sempre ao outro e não a você. Não adianta nada você gastar seu tempo sentado meditando se é incapaz de reconhecer o poder feminino e a igualdade de gênero que se apresenta diante dos seus olhos na sua família, no seu trabalho ou mesmo com desconhecidos na rua.  Bater no peito e posar de espiritualizado enquanto faz piadas machistas e distribui postagens preconceituosas com mulheres nas redes sociais, coloca por terra toda a sua tentativa de subjugar sua mente iludida e o torna um ser humano vulgar e hipócrita.

Você se ilude achando que os homens são superiores porque as grandes quebras de paradigma da história foram feitas por mulheres e isso segue até hoje. Se você acha que os homens são superiores em qualquer aspecto é fruto de uma ignorância social e influencia talvez religiosas que demonstra nada mais que pura ilusão de realidade.

Sendo assim, use seu poder crítico para começar a entender que todos somos seres humanos iguais, não importando a forma de nosso corpo, a cor de nossa pele ou as idéias dentro da cabeça.  O seres humanos são iguais e o reconhecimento dessa igualdade só vem quando temos atitudes concretas que combatam a discriminação em todas as esferas sociais.

As mulheres estão lutando com todas as forças para sobreviverem e nós homens temos a obrigação de ajuda-las como elas sempre estão dispostas a nos ajudar. Sem julgamento, se distinção, apenas com respeito e reconhecimento.

E por esse reconhecimento que fico empolgado de ver que dentro do budismo temos grandes expoentes do sexo feminino no mundo contemporâneo que trazem a luz da sabedoria para a humanidade.  Destaco Pema Chodron com sua sensibilidade e carinho para falar sobre a morte. Tenzin Palmo que angariou fundos e praticamente construiu com as próprias mãos um monastério para mulheres em Ladakh para dar empoderamento paras as monjas locais e do mundo todo.  Reva. Junko Obata da Ordem Shinshu Otani que promove um trabalho com leprosos no Japão além de encabeçar uma poderosa associação de monjas da ordem no Japão para garantir sempre direitos iguais. No Brasil, destaco a monja Isshin de Porto Alegre que tem usado a tecnologia para difundir o Dharma em português e a Reva Sayuri Tyojun de Apucarana que tem dedicado seus dias a árduas traduções de textos sagrados do japonês para o português para que tenhamos acesso cada vez mais à uma sabedoria milenar.

Eu me prostro diante desses ícones e as reconheço como marcos históricos que devem ser conhecidos e reconhecidos por todos.  Desta forma, tenho a esperança que possamos deixar de discutir esse assunto em um futuro próximo pois será tão natural esse reconhecimento que não precisaremos mais nos envergonhar de nossas atitudes machistas.

#girlpower

 

 


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